A medicina está a serviço de quem e para quem?
"A medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade e deve ser exercida sem discriminação de qualquer natureza".
O médico é um trabalhador do conhecimento, uma profissão baseada no relacionamento
entre pessoas.
Durante séculos a relação médico-paciente e suas famílias fundamenta-se na confiança
que sempre foi conquistada por médicos, os quais colocam na sua arte de atender pessoas.
Valores como a solidariedade, o acolhimento, o respeito, o direito à informação, o sigilo e o respeito.
Este saber ouvir e disposição para socorrer se completa quando, no exame físico do paciente, o toque entre duas pessoas consolida um ritual de atenção organizado, onde a confiança se alia à esperança e a crença da recuperação.
Mas neste cenário existem muitos outros atores ou até autores.
O fascínio da tecnologia tende a afastar o médico de seu paciente.
A influência da indústria farmacêutica e de equipamentos na formação acadêmica do médico está presente, valorizando a especialização, a lógica do utilitarismo científico e mercantil.
De forma concomitante, há uma desvalorização do rico mundo de interações simbólicas envolvendo médicos e pacientes.
Ao permitir a perda de espaço da relação médico-paciente nos seus atendimentos, o médico permite que seu trabalho artesanal sofra o mesmo processo.
As conseqüências deste cenário seguem uma evolução.
Ao ponderarmos valores para um atendimento médico, dois grandes componentes se evidenciam: o trabalho artesanal do médico e os recursos tecnológicos disponíveis. Por sua vez, a equivocada aplicação da lógica de mercado na medicina faz com que a tecnologia mantenha seus objetivos de lucro e retorno do capital investido, ocasionando uma opressão ao trabalho médico e sua conseqüente desvalorização.
As dificuldades não param!
Além da referida desvalorização do trabalho médico, os administradores, no codinome de gestores, intermedeiam a oferta do trabalho médico e a demanda dos pacientes, com a tendência de transformar o trabalho médico em produto e de tornar o nosso paciente um usuário ou consumidor.
Estes administradores influenciam na agenda de consultórios médicos, induzem a alterações de comportamento com o objetivo de controle financeiro e, finalmente, de forma paradoxal à sua lógica de mercado, querem determinar valores a quem presta serviço.
Prezados colegas, vivemos um momento crítico de nossa profissão.
O que descrevemos retrata o médico como um componente da cadeia de produção de bens e serviços de saúde.
Só existirão mudanças estruturais se o médico assumir seu papel de coordenar e determinar os serviços de promoção, assistência e recuperação da saúde.
Ao defendermos o poder dos médicos em determinar o seu trabalho, o fazemos visando a proteção do paciente, para que a medicina seja exercida disponibilizando uma excelência de qualidade aos cidadãos e dignidade ao trabalho médico.
Contestamos o poder sobre o médico, com vistas à mercantilização da medicina.
Os médicos devem Ter esta consciência para que, unidos, possam reverter estes processos, consideramos que o principal valor da nossa profissão é a relação de confiança com nossos pacientes e suas famílias, o que os economistas chamam de valor agregado.
O caminho é a valorização da relação médico-paciente.
Precisamos de uma nova postura, uma nova atitude.
Médicos e pacientes devem deixar de serem espectadores e recriar uma associação comum, para juntos enfrentarem problemas comuns.
sábado, 30 de outubro de 2010
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